Jornal de Opinião

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07/09/09

Sair de cabeça erguida

‘Vale a pena ser sacerdote para ver as pessoas saírem de cabeça erguida’ das nossas celebrações.
‘Vale a pena ser sacerdote para ver as pessoas saírem de cabeça erguida’ das nossas celebrações.
Foi desta forma simples (sem ser simplista) que o monge alemão Anselm Grün terminou a sua primeira intervenção no VI Simpósio do Clero de Portugal, que decorreu em Fátima de 1 a 4 de Setembro.
Sem pretendermos esmiuçar as comunicações deste fundamental momento da Igreja em Portugal – para mais inserido no ‘Ano sacerdotal’ – parece-nos que aquela tipificação do Padre Anselm Grün teve o condão de provocar nos mais de oitocentos padres de todo o país uma boa atitude, que foi posteriormente esclarecida por outros conferencistas e polarizou conversas e partilhas.
De facto, nota-se que na Igreja católica – e nos padres em particular – falta esta capacidade de levantarmos a cabeça sem arrogância nem falsa humildade. Com efeito, nem sempre as nossas celebrações – sobretudo da missa – nos fazem sair, desde os ministros até aos outros fiéis, de cabeça levantada e com o espírito capaz de ser testemunha da dignidade da vitória de Jesus Ressuscitado.
Como participante na quase totalidade destes momentos de reflexão, de oração, de partilha e mesmo de convívio, quase sentimos uma tristeza atroz por vermos alguns dos nossos padres primarem pela ausência e nem mesmo a duplicação de presenças do último simpósio de há três anos para o deste ano nos convence de que algo não está bem (ou tenha melhorado significativamente) nesta área da Igreja católica que são os padres e o exercício do seu ministério pessoal e pastoral.
- Por mais optimista que possa ser (ou vir a ser) a visão emergente deste simpósio, parece-nos que falta capacidade de diálogo intra-cultural na Igreja católica em Portugal.
- Por muito positiva que possa ser (ou vir a ser) a perspectiva saída deste simpósio, parece-nos que nem todos os padres estão acertados na mesma linguagem na nossa Igreja católica portuguesa.
- Por muito que se pretenda dar a entender que vai surgindo uma imagem mais cativante (ou mesmo de maior abertura) para com o mundo, parece-nos que nem todos os membros conscientes da Igreja católica em Portugal conseguiram ultrapassar certos complexos de orfandade à luz da crise da cristandade... decrépita, defunta e (já) enterrada.
Sem pretendermos dar lições (teológicas, bíblicas, espirituais ou mesmo eclesiais) ousamos sugerir, neste ‘Ano sacerdotal’, à luz da aprendizagem neste sexto simpósio do clero:
+ Enquanto não houver uma conversão séria a Jesus vivo e ressuscitado, a nossa Igreja não passará de uma instituição razoavelmente bem organizada, mas sem alma nem ardor;
+ Enquanto não formos todos capazes de nos questionarmos à luz do Evangelho – sem máscaras nem subterfúgios não assumidos – deixando-nos denunciar pela Palavra de Deus, a nossa Igreja parecer-se-á com uma empresa em maré de saldos e prestes a abrir falência;
+ Enquanto dermos a entender que corremos pelo prestígio e não pelo serviço, a nossa Igreja poderá dar a entender ser mais um ninho de víboras do que um berço de paz e de concórdia;
+ Enquanto formos tentando impor aos outros a nossa maneira de pensar em vez de nos adiantarmos em fazer os outros crescer na comunhão, a nossa Igreja corre o risco de converter-se num espaço (quase) desumano, sem alma nem coração;
+ Enquanto os que forem descobrindo o seu lugar nesta Igreja desertarem com medo de serem provados pela calúnia, a humilhação ou mesmo a incompreensão, então esta nossa Igreja precisará de um novo e urgente Pentecostes da fúria de Deus.

Porque amámos esta Igreja, queremos servi-la humilde, leal e fraternalmente, já... tentando sair de cabeça erguida, desde logo, das nossas missas e encontros de fé.

A. Sílvio Couto

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