Jornal de Opinião

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22/07/09

Ser criança diante de Deus

Conta-nos o Evangelho de S. Marcos (Mc 10, 13-16) que as crianças eram apresentadas a Jesus para que as tocasse e abençoasse. Eram as próprias mães dessas crianças que tomavam esta audaciosa iniciativa. No seu coração – feminino e materno ao mesmo tempo – intuíam que o Mestre da Galileia podia dar aos seus filhos algo que elas não podiam dar: uma mercê que estava acima das suas capacidades; um presente que vinha directamente de Deus. E elas, como boas mães que eram, estavam dispostas a superar todos os obstáculos. Desejavam ardentemente, para aqueles que mais amavam nesta Terra, uma bênção vinda do Céu.
Os discípulos, ao verem aquele alvoroço infantil, procuravam evitar que Jesus fosse importunado. Era impensável que o seu Mestre, que tinha tanto que fazer e ensinar, perdesse o seu precioso tempo com aquele auditório barulhento e imaturo. No entanto – continua o relato evangélico –, vendo este modo de actuar dos seus discípulos, Jesus indignou-se. Os discípulos ficaram surpreendidos com esta reacção. Nessa ocasião, ouviram dos seus lábios um luminoso ensinamento que nunca mais se esqueceram: “Deixai vir a Mim as crianças e não as impeçais, porque dos que são como elas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10, 14-15).
Ser criança diante de Deus não é ser infantil, nem simplório, nem ingénuo. É simplesmente reconhecer a nossa pequenez. Reconhecer que diante de Deus somos muito pequenos – mais pequenos do que diante de nós um recém-nascido. Além de pequenos, somos verdadeiramente filhos de Deus. Podia não ser assim. Podíamos ser somente criaturas como o resto da criação, mas temos a dignidade de filhos de Deus. Somos – entre todas as criaturas visíveis – os únicos que foram criados à imagem e semelhança do Criador.
Ser criança diante de Deus é cortar pela raiz a tendência que todos temos para a auto-afirmação. É uma tendência perniciosa, que faz enormes estragos no nosso interior e no relacionamento com os outros. É uma verdadeira lepra, da qual procede um duplo mal: afasta-nos de Deus e também nos afasta dos outros.
Ser criança diante de Deus é renunciar radicalmente ao orgulho e procurar uma humildade genuína. Existe uma humildade que não é genuína porque é sinónimo de acanhamento, timidez e ausência de personalidade. Se é verdadeiramente humilde, o cristão será – ao mesmo tempo –, profundamente audaz. Sabe que sem Deus não pode nada, mas também sabe que com Ele pode tudo. Sabe que se conta com a ajuda de Deus – que é Pai e é todo-poderoso – não tem nada a temer. A vitória sobre o mal está garantida.
No fundo, ser criança diante de Deus é confiar completamente n’Ele, aconteça o que acontecer, como as crianças pequenas confiam totalmente nos seus pais.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

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