Ao Compasso do Tempo - Crónica de 17 de Julho de 2009
Leitura semanal dos problemas do Mundo e da Igreja
1. De expectativas escrevi a semana transacta, salientando os “preconceitos” que germinam à nossa volta em matéria da “questão social” nos seus matizes vários. Pois, no sábado 11 de Julho, um semanário, em local de opinião, citando Mateus 23, 21 (“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”), afirmava que “há uma coisa que irrita no Papa: é quando ele se põe a trazer Marx para o Evangelho. Aquilo que o Papa tem dito sobre – a suposta – falta de ética do capitalismo não ficaria mal na colectânea dos “summer hits” de Francisco Louçã”. Já não comento o propósito de Jacques Attali (o qual é de outra área do pensamento) quando opina que “o capitalismo tem de ser controlado pelo direito. A questão está, sobretudo, em saber em que é que a moral pode ajudar à fixação de um Estado de direito planetário”. Mas acrescento o parecer do agnóstico francês Comte – Sponville, especialista em filosofia ética, quando afirma que “o capitalismo é amoral. Não funciona em ordem à virtude, à generosidade, ao desinteresse mas, ao invès, ao interesse pessoal ou familiar: funciona em ordem ao egoísmo” (Le Monde dês Religions, Paris, Julho-Agosto de 2009, n.º 36, ps. 78-79). Marxismo no pensamento do Papa Bento XVI?! Quando o Papa no domingo passado, antes da oração do “Angelus”, denunciou na Praça de S. Pedro “as desigualdades sociais e as injustiças estruturais intoleráveis, defendendo a necessidade de soluções globais para resolver os problemas, ou seja, uma estratégia coordenada para procurar tais remédios de globalização solidária”, estará a perfilhar teses marxistas?
Já não se trata de preconceitos (anteriores ao texto de Bento XVI). Trata-se, sim, de pós-conceitos… no sentido de que o questionamento dos mecanismos sociais vigentes e a urgência de uma regulação ética e jurídica, assumida por uma política da defesa do bem comum… derivam de entorses ideológicas, que não da principiologia do magistério social da Igreja. Reclamar padrões do comportamento no tocante ao liberalismo é manchar a cooperação leal entre Deus e César, intrometendo-se alguém em área indevida, com trejeitos de imperialismo mental?
São perguntas em bom diálogo. Realmente há cinquenta anos quem fizesse discursos, à semelhança desta sã doutrina do Papa, recebia logo um carimbo oficial de subversivo. Afinal de contas, avançamos muito pouco…!
2. Contrariando o prometido, não é hoje que destacarei este ou aquele conteúdo do texto papal. E não o faço para dar notícia, neste cantinho, do que, porventura, corre o risco de não ser noticiado.
Falecido em 3 de Fevereiro último, o Senhor D. António dos Reis Rodrigues, antigo bispo auxiliar dos Cardeais D. Manuel Gonçalves Cerejeira e António Ribeiro para o sector das Forças Armadas e de Segurança, e mais tarde (em 1975) Vigário-Geral do Patriarcado de Lisboa, foi homenageado pelas Forças Armadas Portuguesas, tendo-lhe sido atribuída uma condecoração póstuma pelo Senhor Presidente da República (e na ordem da hierarquia, a segunda maior).
Dizem para aí que os tempos são de perdição, que ninguém respeita ninguém, que a Igreja é menorizada, que a comunicação social nos “come” ao pequeno-almoço…
Mas, afinal de contas, e “esta”?! E sou testemunha do que acabo de depor, em 14 de Julho de 2009, na Academia Militar (Aquartelamento da Amadora) …
Lisboa, 17 de Julho de 2009
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
http://castrense.ecclesia.pt
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