Ao Compasso do Tempo
Que valor têm, em nossos dias, a vida, a família, os sonhos, o bem-estar, a saúde, a promoção cultural, a felicidade, a paz…?
Têm valor e rosto estas entidades, por vezes máscaras distantes, por outras, sempre ansiadas?
O que vale o dinheiro e o depositar em bancos de honra ou em instituições do mesmo género, mas onde se perdeu a nobreza de ser direito?
O que vale hoje? Vale tudo? Ou nada vale?
A propósito desta floresta de valores, contava-me há dias um casal, de bastantes anos percorridos, a sua estupefacção quando, em diálogo com casais muito mais novos, deles escutaram exclamações e criticas. Os mais jovens estavam admirados pelo “velho” casal não possuir o que para eles era estritamente necessário! Como era possível viver-se só com um automóvel, quando eles, de geração recente, exigiam dois? E como explicar que se contentassem com um só aparelho de televisão? E viviam serenos e felizes os mais velhos, só com uma casa? E a outra habitação de fim-de-semana?
O que “vale”… é ter dois carros (já agora, mais um jipe, que também carro é…), 3 aparelhos de TV, mais um palácio ou um “tugúrio” de mudanças de ares, ao fim de cada uma das sextas-feiras…
Não me admira que na sondagem (valham o que valem as ditas) apresentada esta semana: “Dez anos de Valores em Portugal (Público, 30 de Junho), o maior valor para os portugueses seja “ser rico”, “dar a vida por alguém”, em primeiro lugar, pela sua família (o que correcto é; só é de admirar que outras razões, tais como salvar a vida a alguém, morrer pela sua pátria ou por uma causa política não sejam tão sedutoras como ambiciosas…) e a “Paz” continua um valor bem alto, mas abstracto, deixando para trás os condimentos imprescindíveis para se viver aquela realidade (sem justiça, sem liberdade, sem honra, sem harmonia social… nunca haverá paz).
“Um dia teremos de construir um mundo totalmente novo. E quanto mais delitos e horrores se derem, mais amor e bondade teremos de oferecer em contrapartida, sentimentos que temos de conquistar dentro de nós. Podemos sofrer, mas não podemos sucumbir” (Etty Hillesum, Cartas, Lisboa, Assírio Alvim, 2009).
Lisboa, 03 de Julho de 2009
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
Leitura semanal dos problemas do Mundo e da Igreja
http://castrense.ecclesia.pt
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