Jornal de Opinião

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05/06/09

Sete critérios (e dez perguntas) para votar... conscientemente

«Em todas as eleições, como na acção política normal, o critério fundamental deve ser a pessoa humana concreta, servida e respeitada na sua dignidade e direitos. Assim poderá satisfazer também os seus deveres. É este respeito e cuidado que permite realizar a humanização da sociedade. Ninguém deve esperar que um programa político seja uma espécie de catecismo do seu credo, mas um modo de compromisso para a solução dos problemas do país.
Neste sentido, enumeramos alguns critérios que consideramos importantes para escolher quem possa melhor contribuir para a dignificação da pessoa e a realização do bem comum: – promoção dos Direitos Humanos; – defesa e protecção da instituição familiar, fundada na complementaridade homem mulher; – respeito incondicional pela vida humana em todas as suas etapas e a protecção dos mais débeis; – procura de solução para as situações sociais mais graves: direito ao trabalho, protecção dos desempregados, futuro dos jovens, igualdade de direitos e melhor acesso aos mesmos por parte das zonas mais depauperadas do interior, segurança das pessoas e bens, situação dos imigrantes e das minorias; – combate à corrupção, ao inquinamento de pessoas e ambientes, por via de alguma comunicação social; – atenção às carências no campo da saúde e ao exercício da justiça; – respeito pelo princípio da subsidiariedade e apreço pela iniciativa pessoal e privada e pelo trabalho das instituições emanadas da sociedade civil, nomeadamente quando actuam no campo da educação e da solidariedade.O eleitor cristão não pode trair a sua consciência no acto de votar. Os valores morais radicados na fé não podem separar se da vida familiar, social e política, mas devem encarnar se em todas as dimensões da vida humana. As opções políticas dos católicos devem ser tomadas de harmonia com os valores do Evangelho, sendo coerentes com a sua fé vivida na comunidade da Igreja, tanto quando elegem como quando são eleitos».
- Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre as próximas eleições, ‘Direito e dever de votar’ (de 23 de Abril de 2009), n.º 4.
Mais do que comentários – sobre o acto eleitoral das europeias – este excerto do texto da Conferência Episcopal pode e deve-nos levar a pôr perguntas com um mínimo de seriedade, de consciência cívica e de compromisso político:
- Com qual dos vectores humanos (pessoais ou comunitários) votamos: com a cabeça, com o coração ou com o estômago?
- Até onde poderá ir a simpatia para com os candidatos sem olharmos à sua ideologia ou mesmo ao seu (anterior) percurso?
- Temos por critério suficiente ou essencial da nossa escolha a temática da vida em todas as suas dimensões, expressões e manifestações?
- Teremos, de verdade, cristãos nos postos de decisão política ou eles/elas são meras decorações de oportunidade duvidosa?
- A quem interessa empurrar, excluir ou impedir (acintosamente) padres ou bispos da vida política (não partidária): aos profissionais da dita ou aos caciques de ocasião, mesmo que camuflados de democratas?
- Quem tem medo do voto obrigatório: os mentores da farsa, os promotores da cunha ou os conservadores da estagnação reinante?
- Para quando a decisão – ousada, correcta ou necessária – de cortar nas regalias sociais e de assistência a quem não votar?
- Por que é que não se prega mais claramente a culpa moral (pecado) de quem foge – por omissão – de votar entregando as decisões aos outros?
- Por teremos de suportar tanta incompetência, se está nas nossas mãos escolher os melhores, que é muito mais do que os menos maus?
- Poderemos envergonhar-nos da nossa missão neste mundo, fazendo de conta que quem nos governa – seja qual for a instância – nos defenda ou explora, só porque não foi ou é o da nossa escolha?

Na medida em que tivermos o olhar posto em Deus, estaremos mais atentos aos outros, comprometendo-nos com a construção da cidade dos homens, já.

A. Sílvio Couto

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