Lições de avós... em tempo oportuno
No último domingo deste mês de Julho – que muitos pretendem que sejam de férias, de descontracção e de menor exigência – ocorre o ‘dia nacional dos avós’, a 26. Embora seja domingo – por isso São Joaquim e Santa Ana são suplantados liturgicamente – podemos (e devemos) aproveitar a ocasião para abordar o tema dos avós, tantos social como religiosa e, sobretudo, espiritualmente.
Recordamos, por isso, uma breve estória – uma quase lenda do Alto Minho – para ilustrar a realidade dos nossos velhos, como categoria humana de sabedoria e de longevidade.
Era costume numas das terras do Soajo que, atingida certa idade, o filho mais velho pegasse no pai e o levasse ao monte para que este morresse longe de casa. Ora, um filho cumprindo a tradição, no dia aprazado, tomou uma manta e uma broa de pão e lá conduziu o pai para o monte à espera da morte.
O velho, cumpridor da tradição já para com o seu pai, deixou-se conduzir. Estava prestes a ser deixado no monte à espera da morte, quando rasgando parte da manta que o filho lhe levara para se cobrir, disse:
- Toma, meu filho, metade desta manta para te cobrires, quando te trouxerem também ao monte... como eu trouxe teu avô!
O filho reparou nos olhos lânguidos de seu pai... e não foi capaz de o deixar a morrer ali naquele ‘amaldiçoado’ monte!
Neste contexto do ‘dia dos avós’ deixamos – sem qualquer acusação – breves perguntas, talvez, inoportunas:
- Estamos a cuidar com dignidade dos ‘nossos’ velhos?
- Teremos sabido apreciar a sabedoria dos nossos/as anciãos/as, quais universidades intemporais de saber e de memória?
- Como vão os nossos critérios – sobretudo a partir dos valores cristãos mais básicos – de assistência aos mais velhos: com caridade ou como mera solidariedade?
- Até onde irá a capacidade de decisão política sobre matérias que envolvem os mais frágeis da nossa sociedade, que são os velhos: usámo-los em campanhas ou servimo-los com sinceridade de recursos e meios?
- Não estará a Igreja – mesmo na sua dimensão católica e nas mais variadas instituições e entidades – também a explorar os proventos dos mais fragilizados em vez de tentar criar condições para catapultar a gratidão... mesmo que seja só em forma de acolhimento?
Oração de avós e netos
* Avós
Por podermos ver ‘os filhos dos nossos filhos’,
no cumprimento da bênção em matrimónio,
- queremos agradecer-vos, Senhor, todos os dons que nos concedestes como sinal da vossa presença amorosa;
- queremos dar-vos graças, Senhor, pelo dom da vida, feito comunhão e esperança;
- ajudai-nos, Senhor a crescer na confiança pela ternura derramada em nós e à nossa volta.
Da experiência de vida com que fomos abençoados, pela comunhão de fé e em sintonia de caridade:
- queremos assumir, Senhor, a responsabilidade de velarmos pela concórdia da nossa família;
- queremos oferecer, Senhor, a nossa vida como testemunho de entrega aos outros;
- dai-nos, Senhor, um coração atento à construção da unidade familiar em nós e à nossa volta.
* Netos
Na presença de Deus e dos nossos avós, como netos:
- queremos agradecer-vos, Senhor, a força da vida neles manifestada;
- queremos reconhecer, Senhor, a segurança que os nossos avós nos transmitem;
- queremos entregá-los, Senhor, humildemente, à vossa protecção, hoje e para sempre.
Na presença dos nossos avós, diante de Deus e em Igreja, como netos:
- queremos retribuir, Senhor, a atenção daqueles que, de tantas formas, nos têm amado;
- queremos também, Senhor, cuidar deles com paciência, sobretudo quando as forças lhes começarem a faltar;
- queremos, Senhor, ter para com eles todo o respeito, dando-lhes ternura condigna.
* Avós e netos
Reconhecemos, Senhor, que, na nossa vida, mesmo sem disso nos darmos totalmente conta, tudo concorre para o bem daqueles que Vos amam.
Por isso, nos queremos comprometer, uns diante dos outros e todos diante de Vós:
- a colocarmos Jesus como centro da nossa vida, tanto pessoal como familiar;
- a vivermos centrados nos valores do Evangelho;
- a darmos testemunho de vida pela compaixão;
- a velarmos pela harmonia entre as gerações pelo respeito mútuo.
São Joaquim e Santa Ana
- rogai por nós.
A. Sílvio Couto
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