Jornal de Opinião

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21/07/09

Apontamento

Este é o início da minha postagem.
Um profundo silêncio, reinava na casa mortuária da igreja, apesar de se encontrar ali reunido, elevado número, de familiares e amigos, do ente querido que se velava. Homens de rostos graves, senhoras de olhar compadecido, chorando lágrimas teimosas, traduziam toda a dor sentida, por aquele desaperecimento. Junto à urna onde se erguiam velas acesas, brilhando palidamente, um mar de flores. Na parede fronteiriça, Jesus crucificado, como para lembrar aos mais desanimados, que o Seu sacrificio na cruz, não fora em vão, mas para nos garantir a continuidade da vida, para além da morte.
Olhei através de uma das pequenas janelas rectangulares da casa, como se procurasse no sol, que lá fora tudo inundava, refúgio para a tristeza que sentia. Foi então, que não tardei a ver espreitar para o interior, três garotinhos, dois rapazes e uma menina, de uns cinco ou seis anos de idade. Tudo contemplaram atentamente, com um olhar sereno e um sorriso ingénuo. Depois desapareceram, como passarinhos que levantam voo ao menor ruído. Ouvi as suas vozitas cristalinas afastarem-se; mas poucos minutos passados, de novo os três adoráveis rostozinhos apareciam na janela. Agora, olhavam tudo mais demoradamente: a urna, as flores,o crucifixo, sem que o sorriso os abandonasse; porém ao contemplarem a assistência, enlutada e chorosa, de súbito, tomaram uma expressão de gravidade e entreolharam-se admirados, interrogando-se mutuamente, em silêncio. Adivinhei o que pensavam, quais as suas dúvidas. - " Porquê tantas lágrimas, se quem estava deitado, naquela grande caixa de madeira, dormia tranquilamente, sob o olhar terno de Jesus?!..."
Na sua simplicidade imensa, são as criancinhas que mais perto estão da verdade. Não se morre: dorme-se no Senhor. Os adultos tudo complicam com a sua incredulidade, com as suas dúvidas, baseando-se mais na ciência do que na fé. Ao contemplar aqueles pequeninos, como eu lastimei profundamente, que os "grandes" não quisessem ser crianças!...

Susana Maria Cardoso

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