À luz da carta aberta – ‘Votar em liberdade de consciência esclarecida’
Votar esclarecidamente... como cristão
Com data de 22 de Junho passado – dia litúrgico de São Tomás Moro, padroeiro dos políticos cristãos – um grupo de sessenta personalidades (entre eles/as professores universitários, médicos, deputados e economistas) tornou pública uma carta aberta, endereçada aos partidos políticos portugueses, em ordem ao esclarecimento para as próximas eleições legislativas. O documento intitula-se: «Votar em liberdade de consciência esclarecida» e dá como prazo de resposta, até final deste mês de Agosto, para que todos os interpelados nos esclareçam e nós possamos votar sem trair a nossa consciência.
Partindo da citação do número quatro da Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre as próximas eleições, ‘Direito e dever de votar’ (de 23 de Abril de 2009), os subscritores recordam critérios de escolha: os direitos humanos, a família, a vida humana, as questões (direito e segurança) de trabalho, o combate à corrupção, as temáticas da saúde e da justiça, o respeito pela iniciativa privada, sobretudo no âmbito da educação e da solidariedade.
Apelando ao esclarecimento, os promotores da ‘carta aberta’, incentivam ao «confronto dos programas» partidários em ordem a que quem vai ter de votar – e somos todos: eleitos e eleitores – saiba escolher sem ninguém se esconder sob a capa da ideologia e das conveniências de grupos e/ou de lóbis.
Com todo o risco de cidadania – e mesmo de opinião cívica – que nos é, minimamente, conferido, ousamos dizer, atendendo aos critérios citados a partir da ‘Nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa’, em quem NÃO VOTAMOS:
* Em quem confunda, simplesmente, os direitos adquiridos com os deveres necessários e justos para com os outros. Breves exemplos: os salários arranjados sem trabalho digno, as regalias sindicais sem participação na riqueza desenvolvida, os cargos de conveniência sem concurso ou sem a preparação adequada.
* Em quem tente promover o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em detrimento e/ou em aviltamento da família constituída na complementaridade entre homem e mulher. Breves razões: abjuramos certos argumentos filosóficos e sociológicos dos mentores da cultura anti-matrimónio (entre homem e mulher) e perante uma espécie de exaltação das razões de cunho mais emocional... em vez do recurso ao pensamento racional.
* Todo e qualquer partido que defenda o aborto, a eutanásia (activa ou passiva), a mutilação ou a violência sobre os mais fracos e indefesos, antes de nascer ou em estádio pré-mortem. Breve explicação: denunciando esse artifício de (pretenso) progressismo da ‘interrupção da gravidez’ como se fosse um método de controlo de natalidade... eficaz e sem consequências pessoais, afectivas, psicológicas, familiares e sociais.
* Em quem usa os desempregados como artefacto eleitoral, esquecendo-os, quando já não interessam nem dão votos, sobretudo quando são jovens e andam à procura do primeiro emprego. Breves exemplos: quando se fomenta o subsídio de desemprego – a médio ou a longo prazo – sem apresentar qualquer perspectiva de saída da crise de identidade humana e cultural... particularmente quando os atingidos vivem no interior do país ou porque fazem parte de alguma minoria social e étnica.
* Em quem tenta encobrir – no Parlamento ou nas autarquias – a corrupção dos seus, servindo-se da mesma temática como arma de arremesso contra os adversários, apresentando-se quais ‘pregadores da decência’ sem se verem ao espelho. Algumas razões: quando tentam crescer na cotação social e eleitoral à custa da promoção da incoerência intelectual e moral... aureolada de defesa de uma certa ecologia e sob o signo da manipulação de alguma comunicação social.
* Em quem se serve da saúde e da justiça para exercer os ‘seus poderes’ de controlo dos mais desfavorecidos, seja pela promoção (quase exclusiva) da saúde pública à custa de favores de grupo, seja pelo adiamento da justiça (lenta e muito cara) com leis contraditórias e só explicadas por ‘sábios’ do seu escritório e associados.
* Em quem tentar usar a educação como espaço ideológico para ser trampolim para outros voos, sejam claros ou ao serviço de correntes transversais de sabor exotérico e iniciático. Breves questões: as lutas de professores terão tido sempre em conta os estudantes, que são a matéria do professorado? As batalhas dos alunos terão sido sempre pela melhor aprendizagem?
Tal como se diz na carta aberta – ‘votar em liberdade de consciência esclarecida’ – esperamos que «em tempo razoável os partidos candidatos respondam de que forma pretendem ou não corresponder às questões» colocadas, «com que políticas e dispondo de que meios para lhes dar cabal execução no exercício da próxima legislatura e se tal acontecer da acção governativa».
Pela minha parte já disse em quem não voto. Espero que outros sejam capazes de me apresentarem ideias... com verdadeiro sentido cristão.
O voto é uma arma – pacífica e certeira – de consciência bem formada e esclarecida. Nunca por nunca me absterei!
A. Sílvio Couto
1 Comentários:
Re-escrevo- "votar em liberdade: de consciência esclarecida". Não seria mais correcto e verdadeiro o título deste artigo nestes termos? "De consciência esclarecida"! A quem interessa realmente a formação de um povo com consciência bem formada e esclarecida? Se este fosse o ponto/coluna vertebral de todas as propostas que nos são apresentadas pelos (diz que são) políticos, o nosso país virar-se-ia do avesso. Considero que a liberdade só é VERDADE a partir do momento em que nos forem proporcionadas, sem quaisquer restrições ou omissões, as ferramentas essenciais para construirmos uma tal consciência. O critério estruturante de todas as demais escolhas deveria ser, para todos e cada um de nós, este. Ou não é verdade que a LIBERDADE é a capacidade (habilitarmo-nos com todos os dados que nos tornem capazes)de optar de acordo com uma consciência esclarecida e formada para o bem?
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