Jornal de Opinião

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18/09/09

Horizontes estreitos e redutores geram pobreza social

Sempre que surge, a qualquer nível, um acontecimento que toca em conceitos, preconceitos e interesses de qualquer ordem, surgem brados de escândalo, críticas mordazes e, consequentemente, o exibir de títulos de modernidade e progressismo.
Sempre que surge, a qualquer nível, um acontecimento que toca em conceitos, preconceitos e interesses de qualquer ordem, surgem brados de escândalo, críticas mordazes e, consequentemente, o exibir de títulos de modernidade e progressismo. Os protagonistas do desagrado esgotam os habituais epítetos que atiram, como setas despeitadas, aos intervenientes desagradáveis no processo, e que actuaram nele, por força do serviço devido à verdade e ao bem da comunidade no seu conjunto. Há acontecimentos que não dispensam as normais exigências éticas, queira-se ou não.
Já não é o primeiro cientista a reconhecer a razão do Papa, quando, em Março, no avião que o levava aos Camarões, se referiu à não solução do preservativo, frente ao drama da sida, na Africa ou em qualquer outro sítio.
Agora, é mais um reconhecido cientista, professor da conceituadíssima Universidade Harvard, Edward Green, Director do Projecto de Prevenção da AIDS, que vem dizer, fruto do seu saber e experiência, a uma Europa impada de certezas, que Bento XVI tinha e tem razão, porque “as medidas de carácter e técnico e médico não servem para resolver o problema da sida”. As palavras insultuosas, então dirigidas ao Papa, foram, já o sabíamos, dardos que erraram o disco-alvo.
Mais uma vez o Presidente da República foi brindado, por motivo do seu veto à lei sobre as “uniões de facto”, com os habituais mimos de “retrógrado”, “antiquado”, e agora, também, incapaz “de compreender as novas relações sociais” e, por razão de uma “cega teimosia”, de “descortinar os sinais do tempo” e aos de que “dificultosamente se apercebe, fecha-os no círculo limitadíssimo das suas avaliações”. Desta vez, acrescenta-se, tudo por ser católico e, por isso mesmo, pessoa de vistas curtas…
Interrogo-me, frequentemente, até que ponto este mundo europeu de democratas, já se apercebeu que, em democracia, não vinga o sentido único e que este nada tem de livre e liberto. Pelo contrário, gera, inevitavelmente, horizontes estreitos e redutores, por via da ignorância e da cultura unidimensional, daqueles que, no poder ou fora dele, pensam e dizem que quem não está com eles, está sempre errado?. As convicções de uns não podem esvaziar as convicções dos outros. Não se pode fazer um mundo à medida de cada um. Não se pode menosprezar um património cultural de séculos com valores universais. Sem referências, validamente testadas, não é possível dialogar, nem procurar, em comum, os melhores caminhos e, muito menos, integrar novidades num mundo onde nem tudo perdeu o valore e nem sempre o último que chega vale tudo.
Os sociólogos, a que hoje tanto se recorre para tomar decisões, pondo-se de parte outros elementos necessários de reflexão e apreciação, não são nunca criadores de moralidade, ao lerem, com a necessária competência e honestidade, dados comportamentais, colhidos na sociedade. Nem as maiorias políticas, podem ser, por decisões legais, geradoras de novos modelos de vida, à revelia de postulados éticos e morais.
Um cientista nunca se considera um dogmático ou um sabe tudo. É sempre um insatisfeito que procura. A investigação e a ciência geram gente humilde. Um político, nunca é detentor de um poder absoluto, porque não pode esquecer a sua dimensão. Tem de ver nos outros, pessoas os grupos, gente a ouvir e respeitar, para melhor poder servir.
A humildade não é moeda corrente entre gente que pensa que o último dado da ciência é já o definitivo, nem para políticos que julgam que, depois deles e para além deles, nada pode haver de novo e válido para bem da país.
Gente que se afirma a si negando os outros, desumaniza e destrói uma sociedade de pessoas. Em entrevista recente à RTP 2, Adriano Moreira, que prima pela sua cultura e lucidez de pensamento e coragem em dizer afirma que o Parlamento é o espaço normal de uma diversidade legítima que deve ser acolhida e respeitada, porque só do contributo de todos se encontram os melhores caminhos e soluções. De facto, as maiorias absolutas geram orgulho e prepotência e tornam-se facilmente antidemocráticas. Mais ainda quando as eleições, por pobreza cívica, são a escolha de galos para um só poleiro e não a procura de um equilíbrio de forças e ideias para servir o bem comum.

António Marcelino

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