Jornal de Opinião

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18/09/09

Quase cento e noventa mil portugueses mudaram (assumidamente) de emprego

Segundo dados divulgados por um jornal diário na semana passada, citando fontes do Instituto Nacional de Estatística, quase cento e noventa mil portugueses mudaram de emprego entre os anos de 2007 e o primeiro semestre deste ano.
Explicitando os números por cada ano: em 2007 cerca de 71.500 trabalhadores mudaram de actividade, enquanto, em 2008, quase 65 mil escolheram outra actividade profissional, tendo-se, até Junho deste ano, verificado que 52.500 portugueses optaram por outra profissão diferente da que ocupavam anteriormente.
Por actividades foram os ramos da indústria, da construção civil e da energia que mais mudanças tiveram para os sectores dos serviços, tendo ainda alguns passado a trabalhar na agricultura...
Inseridos na derradeira semana de campanha eleitoral para as eleições legislativas e dada alguma negligência de debate sobre esta temática do emprego/desemprego, poderemos sentir que esse real problema como que foi varrido para debaixo do tapete da discussão pública dos políticos. Com efeito, é urgente dar condições sociais e económicas, políticas e profissionais, pessoais e colectivas, por forma a acreditarmos que quem nos vai governar a curto prazo tem a realidade do emprego/desemprego no topo das suas prioridades... mais do que das intrigas e das tricas politiqueiras.

* Emprego: tripé de identidade
Em tempos não muito recuados o emprego (actividade de trabalho habitual) fazia parte de um dos três pontos da nossa identificação – senão mesmo da nossa identidade pessoal e social – aliado ao nome e à idade. Com o passar dos anos tornou-se cada vez mais difícil manter-se num trabalho/emprego por toda a vida. A variação de oportunidades e de instrução fez modificar a componente de estabilidade de um emprego/trabalho para toda a vida e no mesmo local... fixamente.
Com a explosão do fenómeno migratório muitos trabalhadores tiveram de acomodar-se àquilo que lhes era proporcionado, deixando cair, muitas das vezes, a experiência anteriormente adquirida com esforço, estudo e tenacidade. Nesta época de acentuada mobilidade, cada trabalhador – desde o mais simples e inclassificado até ao quadro superior e bem instruído – teve de adaptar-se às possibilidades, entrando, por vezes, numa máquina de exploração atrozmente desumana.
Deste modo, quando um trabalhador é obrigado a mudar de emprego, sobretudo quando para ele se preparou e (quase) tudo investiu, torna-se uma espécie de desagregação psicológica, criando, à sua volta, um ambiente nada favorável ao rendimento necessário e, quantas vezes, suficiente.

* Onde estão os 150 mil novos empregos... prometidos?
Na campanha eleitoral das legislativas anteriores havia um cartaz que prometia 150 mil novos empregos. Decorridos os anos de governação temos o direito e a obrigação de perguntar aos anunciantes: onde estão os tais empregos? Quando é que assumem as falhas e não continuam a ludibriar o povo, tanto em geral como aquele que (ainda) vota?
De facto, neste intervalo deu-se uma grave crise económica, mas as promessas eleitorais, quando não cumpridas devem, no mínimo, ser justificadas de cabeça levantada e com argumentos sérios. Não podemos continuar a reger-nos por manhas ideológicas, que só ficam mal a quem as usa. Precisamos de homens e de mulheres na política partidária que tenham coluna, tanto nas vitórias como nas derrotas, pois umas e outras fazem parte do (dito) ‘jogo democrático’.
- Porque no futuro (parece que) não precisaremos de ter tanto tempo de trabalho (tanto físico como mental), urge lançar as bases para uma correcta e salutar ocupação do tempo – claro que não será noutro emprego ou trabalho – em ordem à valorização da pessoa humana nas dimensões psicológica/afectiva e emocional/espiritual.
- Porque no futuro (parece que) precisaremos de saber ter tempo para a nossa realização psico-social, urge criar laços de amizade para que se possa dar do nosso tempo livre às causas dos outros, tanto nos mais frágeis como nos mais isolados... mesmo que vivam rodeados de outras pessoas.
- Porque no futuro (parece que) a aposta de trabalho terá de ser mais personalizada e em função também mais do bem-estar do que da concorrência uns contra os outros, urge propor espaços de convívio, onde cada um conta mais pelo que é do que pelo que ostenta ou pretende ter.

Em breve votaremos: a escolha tem de ser consciente e esclarecida. Abstenção: nunca!

A. Sílvio Couto

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