Jornal de Opinião

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24/09/09

À descoberta da essência do ser padre... actualmente

Por estes dias escutei, tão alto era a conversa, a seguinte observação entre duas pessoas:
- Onde é que o padre será ou é mais padre?
Fiquei com o registo e, mesmo que brevemente, reflecti.
De facto, o padre poderá ter algumas (mínimas) qualidades humanas para se dedicar – como em tempos se dizia: para sua realização humana e pessoal! – a funções onde se poderá sentir melhor: na dimensão social, em aspectos artísticos ou literários, em dimensões do foro psicológico, etc. mas a sua essência – o mesmo quererá dizer: essencial – está contida na missa. Com efeito, é neste momento vivencial celebrativo que o padre é, por excelência, homem de Deus e para Deus... caminhando com os seus irmãos, filhos e pais.
Num espécie de sumário poderemos dizer que na missa:
- o padre preside: é pai;
- fala da Palavra de Deus: é filho profeta;
- consagra o pão e o vinho: é irmão sacerdote.

* Pela envolvência intelectual, afectiva e emocional que a missa comporta, o padre está continuamente posto em questão: quando celebra a missa, na medida em que ocupa a cadeira da presidência e se faz ‘pai de família’ para com os filhos de Deus reunidos em nome da Santíssima Trindade: convidando todos a centrarem-se na razão de ser da celebração da missa, como ícone da Trindade activa.
* Quando acolhe e explica a Palavra de Deus proclamada – mesmo que possa haver outros mais instruídos na assembleia – o padre torna-se profeta com coração de filho, pois se torna veículo da boca de Deus para com seus irmãos. Na mesa da Palavra não está somente um comunicador, mas antes um profeta humilde e que está ele mesmo em vias de conversão.
* Sobre o altar estão colocados os dons de Deus – pão e vinho – oferecidos como sinal da bênção de Deus e que simbolicamente expressão da própria entrega do ministro de Deus e dos outros fiéis.
Nas palavras da consagração está contida a radicalidade do carisma do celibato, pois aquele corpo não é pertença de ninguém, mas antes alimento para todos... indistintamente!

Neste ‘ano sacerdotal’ devem ser trazidas à luz de Deus e dos outros fiéis as implicações do ‘dom e do carisma de ser padre’, pois se não virmos o homem concreto que nos serve – esse cujo rosto pensamos conhecer – como esse que Deus nos enviou por misericórdia, então poderemos ser para com ele muito exigentes, mas não perceberemos a graça que lhe foi concedida divinamente.
Se nos escusarmos de estar no nosso lugar – sobretudo na dimensão de paróquia – a que Deus nos chama, poderemos abrir brechas para quem não interessa que esteja. Ora da cobardia a história costuma apagar a memória, mas Deus chamará a contas quem de tal se eximir.
Para além de servidor do culto, o padre deve saber servir a cultura, tornando-se ele mesmo presença que eleva os outros e com eles caminha na elevação contínua para Deus, com Deus e em Deus.
Queira Deus manifestar-se pelo padre, com o padre... em cada tempo e lugar.

Mesmo que de forma simples e sem qualquer intuito de acusação – nem sequer clerical – deixamos breves questões para clérigos e outros fiéis:
- Saberemos todos qual é o nosso lugar na Igreja ou faremos das nossas paróquias uma espécie de ‘placa giratória’ para outros lugares e funções... mesmo fora da Igreja?
- Já nos demos conta de que há um certo desfasamento cultural na nossa sociedade portuguesa e ocidental ou ainda vivemos à sombra dos preconceitos de cristandade... profana?
- Falaremos todos a mesma linguagem ou usamos as mesmas palavras mas cada um dá-lhes um sentido diferente ou conforme mais lhe convém?
Queira Deus ajudar-nos a sabermo-nos avaliar sem ressentimentos nem complexos de culpa.

A. Sílvio Couto


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