Jornal de Opinião

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22/10/09

Ateu, graças a Deus!

Nos últimos dias vimos voltar a falar e a ser falado José Saramago. O seu mais recente livro: ‘Caim’, trouxe à liça um certo clima de contestação a Deus e aos crentes, sobretudo, na incidência católica.
O laureado com o prémio Nobel da Literatura, em 1998, com alguma regularidade parece incomodar-se com Deus, sobretudo na sua revelação judaico-cristã. Nesta recente aparição disse coisas como:
- ‘A Bíblia passou mil anos, dezenas de gerações, a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso e insuportável’;
- ‘Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca’;
- ‘O Corão, que foi escrito só em 30 anos, é a mesma coisa. Imaginar que o Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinha Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos’.
De facto, Deus é Alguém que faz José Saramago ficar com arrepios de medo, não sabemos se por lhe ter respeito ou se por não querer admitir que, mesmo depois de octogenário, continua em busca da sua identidade...
Com efeito, ninguém se incomoda com outro alguém que não exista ou a quem não reconheça identidade, pois se não existe não se daria ao trabalho de o contestar ou até de o refutar, arreliando, repetidas vezes, aqueles que nele acreditam.
José Saramago – cuide-se do significado mais amargo desta erva rural! – parece continuar a alimentar-se (e a alimentar) do arquétipo mais anti-clerical subjacente a muitos comportamentos lusitanos... da segunda República, agora que caminhamos para o primeiro centenário da sua implantação.

* Golpe publicitário ou contumácia na arrogância?
Mesmo que de forma um tanto cordata fomos ouvindo – sobretudo na área da Igreja católica – algumas intervenções denunciando as palavras de José Saramago sobre Deus, a sua visão sobre a Bíblia e a particular atitude com que ele olha a Igreja do passado ou na actualidade.
Atendendo à verborreia do incréu José Saramago – com toda a máquina editorial anti-cristã e minimamente com sabor marxista – quis fazer-se passar por ‘suficiente’ conhecedor da Bíblia e das passagens que lhe interessa esmiuçar, fomos sentindo que biblistas, teólogos, bispos e responsáveis da Igreja católica ousaram contestar os vitupérios contra a Bíblia e a sua interpretação ortodoxa.
* “A Bíblia pode ser lida por alguém que não tem fé, mas supõe alguma honestidade intelectual de quem a lê”, tendo em conta os géneros literários que a compõem – disse o frade capuchinho Fernando Ventura, segundo o qual “não saber situar o texto no contexto é imperdoável para um escritor”.
* D. Manuel Clemente, bispo do Porto e responsável da área da cultura da Conferência Episcopal Portuguesa, considerou José Saramago como “uma personalidade, que tem mérito literário inegável, [mas] que deveria ser mais rigoroso quanto fala da Bíblia”, pois Saramago usou um discurso de “tipo ideológico, não histórico nem científico”, revelando ainda uma “ingenuidade confrangedora” quando faz incursões bíblicas.
* O porta-voz da CEP, Padre Manuel Morujão, lamentou a “superficialidade” com que Saramago se debruçou sobre a Bíblia, lamentando o recurso a certas ideias de Saramago como “pseudo/dogmas”, denotando uma falta de cultura bíblica do escritor... de ‘Caim’.

* Questões sérias ou criações sensacionais?
Recorrentemente José Saramago tenta provocar os crentes – sobretudo os de lastro católico – para que se entretenham a ler divagações subjectivas que ele interpreta como criação literária a que tem direito, isto é, serve-se de conceitos, de figuras, de mitos ou de personagens e dá-lhes o ‘seu’ tratamento com roupagem vendável ao público que lhe enche os bolsos e o faz capitalista com intuitos proletários.
Quando lhe interessa, José Saramago desce, estrategicamente, à sua condição de português – mesmo que recauchutado de iberismo – para acirrar os ânimos dos cristãos/católicos, ousando denunciar-lhes (mesmo) a ignorância nas áreas da Bíblia e dos temas mais fracturantes da semântica teológica. Por breves instantes ele pretende tornar-se uma espécie de guru dos ressabiados para colher os frutos da maior venda de exemplares dos seus livros que o farão sentir-se no seu ‘céu’ na terra, aureolado de anjos e demónios à guisa de fomentadores da sua fama a caminho da cova e do (razoável) esquecimento... a curto prazo.
De facto, Saramago tem uma razoável esperteza, mas esta vale o que vale e serve para o que serve... até que haja quem o compre... mesmo que não o leia!
Este ‘fait-divers’ terá servido para ocupar a falta de notícias sobre um novo governo?

A. Sílvio Couto

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