Jornal de Opinião

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31/07/12

Um país em várias velocidades!...

Desde o último fim-de-semana de maio e até finais de setembro temos diversos festivais de música, espalhados por várias regiões – alternando ao sul e ao norte do Tejo, em volta de Lisboa e nos arredores do Porto, mais ou menos publicitados, com preços, normalmente, elevados, quase sempre cheios de gente bem (dis)posta e com arremedos de bem-falantes e melhores pagantes... Por outro lado, dizem que estamos – é verdade, embora só para uns quantos! – em crise e sobre ela, com ela e por ela se fazem manifestações – usando talvez desempregados ou funcionários da estrutura de protesto! – tanto sindicais como profissionais, usando a contestação como arma de arremesso, com recurso até a impropérios e gestos ofensivos da integridade física e moral dos contendores... sobretudo se forem autoridade. Perante a disparidade de iniciativas fica-me a sensação que algo não está totalmente contado e parece que vivemos num país com vários ritmos de promoção, não se sabendo onde se coloca o nosso interlocutor, seja ele direto e presencial, seja à distância e virtual. = Num país de festas e romarias, festivais e foguetório... Apesar de apelidarem este tempo de ‘crise’ continuamos a ter as nossas festas com mais ou menos solenidade – tanto social como religiosa – transbordando de tiques de vaidade e, nalguns casos, com bairrismos obsoletos. Ninguém quer dar parte de fraco e espreme-se o povo até que ele não possa dar mais... É claro que se verifica uma certa contenção nos gastos, pois o que há anos era feito por mil agora foi reduzido para quinhentos... e tudo rola com igual ‘qualidade’ de serviço e de apreço. Será que antes não se estaria a exagerar nos ganhos ou será que se faziam os preços tendo em conta o bolso e/ou a vaidade dos promotores? - Nota-se uma certa viragem nas entidades festejadas: se antes eram os santos e os recursos eram de índole cultural mais ou menos cristã, ao menos na casca ou no verniz, agora os festejados são mais de natureza transversal, numa mística hedonista e com laivos de neo-paganismo, senão nas ideias pelo menos na prática. - Os ritos desta nova vaga de diversão ultrapassam as meras fronteiras do país e fazem-se espetáculos onde música, letra, cor e envolvência ecológica desencadeiam os (mais) profundos instintos em ordem a criar-se um ambiente de descompressão psicológica... Não é por acaso que álcool, drogas e sexo andam conexos em muitas destas manifestações ‘culturais’, pois na medida em que se libertam (alguns) dos medos, melhor se conseguirá atingir a naturalidade das pessoas. Água, sol, pó e luz – note-se como que estes arquétipos heraclianos! – quase se conjugam nesta refundação de tantos dos nossos contemporâneos... ávidos de sensações mais ou menos epicuristas. - Aliados a estes momentos estão, normalmente, outros ingredientes de comida (muita) e de bebida (bastante) para que possa o povo divertir-se e conviver. Criam-se, deste modo, variados condimentos de tonalidade interessante, mas que, por vezes, escondem outras lacunas de bem-estar mal resolvido, dando-se oportunidade para compensações que têm de ser bem geridas... pessoal e socialmente. Como povo em festa temos de saber estar sem ofender os que mais precisam e não têm o essencial para a sua sobrevivência no dia a dia... A crise dá fome e esta cria revolta! *** Diante de certos papagaios mais ou menos bem-falantes e altifalantes, gostaríamos de desafiá-los a virem para o meio do povo real e não só a estarem com os da sua coloração – partidária, ideológica ou sensitiva – para sentirem as suas alegrias e tristezas, as amarguras e os anseios, deixando-se de atoardas de gabinete ou de leituras para quem vai de visita... pois o mundo não gira só em redor dos seus umbigos nem têm sempre razão ao pregarem do seu pedestal (já) carcomido de caruncho embora envernizado! Coerência a quanto obrigas! Post scriptum: Um certo país de medíocres saiu do armário dos preconceitos quando tratou de forma acintosa o prof. José Hermano Saraiva, recentemente falecido. Se as poucas figuras de valor que temos em Portugal são deste modo achincalhadas só porque não são da cor política/ideológica de certos ‘intelectuais’ da treta, então somos dignos de chafurdar na lama... mais imunda! Fica lavrado o protesto. António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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