“SOMOS DA RAÇA DE DEUS” - (Actos 17,28-31)
Somos da raça de Deus – senão,
donde a fruição contemplativa dos olhos
passeando-se pela beleza da criação,
como se criadores, às primeiras luzes da manhã
e nas pausas gratuitas do dia?
Somos da raça de Deus – senão,
donde o estremecimento do espírito
a inomináveis vozes interiores,
a difusas palavras, cores, luzes,
que nos cativam mas não saciam nunca?
Somos da raça de Deus – senão,
donde a memória incompleta, peregrina
ansiosa para além das cronologias,
demandando sempre dimensões novas,
saudosa de uma casa onde nunca morou?
Somos da raça de Deus – senão,
donde a pulsação acelerada pelo toque
de um sorriso, de um gesto gratuito,
de um olhar fixo ou fugidio, de um aperto
de mão, um beijo, um mínimo carinho?
Somos da raça de Deus – senão,
donde o pêndulo da liberdade, oscilando
entre isto ou aquilo, algo ou nada,
o dentro e o fora, o antigo e o novo…
antes de aquietar-se numa escolha incerta?
Somos da raça de Deus – no entanto,
descontando estes tempos de ignorância,
Deus faz saber que não é semelhante
ao ouro, à prata ou à pedra trabalhada
pela arte e engenharia do homem.
Ah, e faz saber que não somos apenas
da sua raça – somos seus filhos no Filho
e, por isso, herdeiros de um reino eterno
que não é deste mundo, mas transforma-o;
não se confina à terra, mas nela se enraíza.
LOPES MORGADO
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial