Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

04/03/11

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 04 de Março de 2011

Ao ver em canais televisivos a publicidade das festividades do Carnaval, lembrei-me de um texto assinado em 20 de Agosto de 1992, no Funchal, por oito padres e um diácono, do qual cito a passagem seguinte: “São especialmente preocupantes os últimos dados estatísticos que referem Portugal como o país da Comunidade Europeia onde é maior a disparidade entre ricos e pobres e, onde, actualmente, se acentuam as desigualdades sociais, sobretudo com o aparecimento das chamadas «novas formas de pobreza», que atingem principalmente os idosos, os trabalhadores com dificuldade de reciclagem e as pessoas socialmente menos inseridas (por motivos sociais, culturais, etc.).

Por outro lado, não é admissível que certo tipo de «desenvolvimento» seja conseguido à custa da ignorância ou da necessidade das camadas mais desprotegidas da sociedade, ou daqueles que não têm peso suficiente para fazer valer os seus direitos, sendo, por isso, vítimas de engano ou de injustiça”.

Vão lá dezanove anos… E no país, estamos como sabemos. É legítima a diversão, mesmo sob a batuta do calendário. Já não será curial pelos gastos sumptuosos, pela embriaguez (em todos os sentidos) de tantas formas de esquecer a dureza dos dias, pelo olvido dos que perderam as razões da ventura e da alegria. Vai estar tudo cheio. Os lugares de sempre. As pessoas, as mesmas, de sempre. Mas é de humor amargo a conclusão de “marcarmos passo”, volvido tão longa história. É o Carnaval português.

Perguntaram há dois anos ao antigo Geral da Ordem Dominicana, Timothy Radcliffe, por que motivo a Igreja tem dificuldade em manejar tal forma de ser (o bom humor)? Citando G. K. Chesterton, acentua o Pe. Radcliffe: “se é necessário tratar a Deus com seriedade, já não se torna urgente tratar-se cada um tão a sério…! E a Igreja é tão tímida… Se tivéssemos a coragem de tomar o Evangelho como é, sofreríamos o risco de não sermos compreendidos. Jesus correu essa opção ao ser amigo dos pecadores. Não vale a pena andarmos para aí preocupados com a nossa reputação”. Mas até, nestas questões de franca e boa disposição, a tradição já não é o que era. Há motivos para podermos rir de nós próprios. É um Carnaval diferente!

04 de Março de 2011
Januário Torgal Ferreira

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