Jornal de Opinião

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02/12/09

Tequila, o vulcão mexicano

Tequila? Mas então não é uma bebida alcoólica de queimar as goelas? Pois, pode ser, mas a história fala de cinzas do vulcão Tequila, situado a cerca de 150 kms a noroeste de Guadalajara. Nelas cresce uma espécie de ananases bravios cujas folhas lhe ficam agarradas até lhas cortarem, chamados “ágaves azuis”.


Tequila? Mas então não é uma bebida alcoólica de queimar as goelas? Pois, pode ser, mas a história fala de cinzas do vulcão Tequila, situado a cerca de 150 kms a noroeste de Guadalajara. Nelas cresce uma espécie de ananases bravios cujas folhas lhe ficam agarradas até lhas cortarem, chamados “ágaves azuis”. Os seus frutos chegam a pesar 100 e mais quilos. Os homens sempre foram inventivos e de um fruto que não me soube a nada quando o provei, começaram a fabricar um produto que modifica o seu psiquismo, uma bebida inebriante em que o álcool etílico é a substância de base. O resto é paisagem de 34.658 hectares declarada Património da Humanidade em 13.07.06. Num campo destes frutos o guia turístico não se poupou a erudição para nos provar que a qualidade da bebida dependia de certos elementos das cinzas do vulcão Tequila. Mas depois lá foi dizendo que se fazia tequila noutros estados e cidades: Colima, Guantanato,Tamaulipas, Michoacan… Tequila sempre é um vulcão que pudemos fotografar ali ao lado. A bebida, essa, é uma fonte de receita significativa da cidadezinha Tequila que nem existiria sem as fábricas. Os terrenos do vulcão, incluídas as plantações, foram declarados património mundial a fazer lembrar as vinhas das lavas do vulcão do Pico nos Açores.
O marketing excedeu-se na visita guiada a uma fábrica. Os guias esgotaram o seu palavreado técnico e a paciência de alguns em que me incluo. Até obrigaram a enfiar toucas antes de penetrarmos na fábrica sem se saber para quê; e desligar os telemóveis, a não fotografar. Os tipos fizeram-se caros para criar impressão, tornar importante a bebida e a nós, mesquinhos. Ainda me passou pela cabeça que estávamos a fazer um favor por em número considerável de estrangeiros, das áreas da saúde, nos sujeitarmos a ser cobaias do marketing daquela marca e que iríamos merecer o almoço… Ilusão. O almoço teve que ser pago e serviu para continuarem o marketing mesmo após o mesmo com ida “obrigada” à loja para as compras. Sob influência de quatro horas de técnicas de influência social quem é que iria resistir. A julgar pelas experiências de psicologia social, poucos. Seria passar por rombo. Pois eu passei.

Para os não entendidos, como eu, as duas horas de visita tornaram-se uma seca com migalhas de curiosidade. Os entendidos até distinguem a boa tequila, enquanto para mim, ao prová-la mais me pareceu álcool de farmácia. O seu ardor combina bem com vulcão. De toda a maneira ficou-me a impressão de que há em cenas destas muitos paradoxos e contradições incuráveis do viver humanos. Ou se preferirem, armadilhas. A vaidade de se ser um “entendido” não é a menor.

Exportar esta bebida que atinge 65% de álcool puro para uma centena de países trás dinheiro ao país mas não anula outros problemas e prejuízos para o país. Nem de propósito. Ao chegar ao centro de encontros, o rádio a dar estatísticas sobre as mortes nas estradas do México devidas ao álcool. Um perito insistia que bastava um copo e condução para aumentar 20% o número de mortes por acidente. E isto, acrescento eu, quer o álcool tenha ou não tenha os elementos das cinzas do vulcão Tequila. Outra coincidência foi a de no dia 21 numa saída até ao lago Chalapa, o maior do México com mil quilómetros quadrados! No mercado da marginal uma em cada três tendas vendia bebidas, muitas delas alcoólicas e algumas concentradas. Alguns efeitos viam-se por ali nas pessoas passivas, sentadas pelo molhe e praças de cara sombria e olhar apagado, talvez também uma em cada três com efeitos das tequilas mais baratas da rua. Que mania, dirão, de ver a outra face da medalha! Desculpem os leitores, a medalha tem duas faces. O que vale é o México ter 14.000 grupos de Acoólicos Anónimos a funcionar os dependentes.

Tequila (Guadalajara), 15 de Novembro de 2009
Aires Gameiro

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