Jornal de Opinião

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02/12/09

A si, que não vai com a cara do Papa

1. Queria dirigir-me especialmente a si. A si que, já por várias vezes, me disse que não simpatiza com este Papa.

Quando lhe peço um motivo, o mais frequente é dizer-me, após um furtivo encolher de ombros, que não vai com a cara dele!
Perante o meu esgar de espanto, acaba por me falar da situação da Igreja, que — dá para ver — lhe desagrada muito. Sucede que ao Papa também não agrada por aí além.
Aponta-me igualmente a atitude deste ou daquele padre, deste ou daquele bispo. Pois olhe que o Papa também está preocupado. E não o tem escondido.
No fundo, até há muitos pontos de contacto entre o Santo Padre e quem o critica. Mas os lugares comuns são assim. São como uma corrente que passa por nós e quase ninguém lhe resiste.
Não há dúvida de que há uma onda que não é favorável ao Papa. Só que, para mim, é um factor para que o admire ainda mais.
Admiro-o porque ele sabe que é contestado e, apesar disso, nada faz para ser popular. Não vacila. A sua palavra é clara e o seu caminho segue em linha recta. Não anda às curvas.

2. Para ele, o problema da Igreja é sobretudo interno. Desde há muito, está consciente de que a Igreja é uma oportunidade frequentemente transformada em obstáculo: «Se, antigamente, a Igreja era, incontestavelmente, a medida e o lugar do anúncio, agora apresenta-se quase como o seu impedimento».
Porquê? O mal não está numa deficiente integração no mundo. O mal está precisamente no pólo oposto, isto é, numa excessiva integração no mundo.
Não raramente, com efeito, «observamos um estranho oportunismo da Igreja diante das tendências do tempo, inclinando-se de repente para a adaptação quando deveria haver resistência».
Isto significa que, em vez de se assumir como a diferença e a alternativa, a Igreja se resigna a ser a repetição e a redundância.
Não é assim que se serve a humanidade. O então Cardeal Joseph Ratzinger disse, no magnífico Diálogo sobre a Fé, que a Igreja era chamada a ser «oposição à ideologia da banalidade que domina o mundo». Sucede que, por vezes, parece que se prefere fazer, dentro da Igreja, oposição à doutrina da própria Igreja.
Daí que «estar pronto para a oposição e a resistência seja, indubitavelmente, uma missão para a Igreja».

3. Não é pela tendência dominante que a Igreja se há-de nortear. «Não se pode contestar — nota Bento XVI — que a maioria pode enganar-se e os seus erros não se referem apenas a questões marginais».
Não é sequer «o clero que prescreve o que é ou deve ser a Igreja». O sacerdócio não é uma estrutura de poder nem tampouco uma instância de decisão. É, antes de mais, a sinalização «do vínculo da Igreja ao Senhor Jesus».
No sacerdócio, a Igreja supera-se a si mesma, mostrando que ela «não surge através de assembleias, acordos, erudição ou força organizativa». A Igreja deve-se sempre — e só! — a Cristo.
É Cristo que conduz a Igreja, «não são os homens que a moldam a seu bel-prazer».
Se permanecemos na Igreja é precisamente porque, apesar de todas as suas fragilidades, é «ela que nos dá Jesus Cristo».

4. Bento XVI verbera os pastores que, «para evitar conflitos, deixam que o veneno se espalhe».
A tranquilidade é uma aspiração de todos, mas não pode ser uma prioridade para o seguidor de Cristo.
Uma única paz lhe é lícito gozar: a paz da permanente inquietação!

João António Pinheiro Teixeira
padre

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