Jornal de Opinião

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04/12/09

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 04 de Dezembro de 2009

Leitura semanal dos problemas do Mundo e da Igreja

1. Vimos há dois dias num canal televisivo o Papa Bento XVI a receber a maior autoridade política da Rússia em ordem ao acordo diplomático a assinar entre o Vaticano e aquele país, assinalando-se a abertura próxima de uma Embaixada. E de uma Nunciatura Apostólica em Moscovo? Há “saltos” na história com sabor a infinito, sem conceder a este um tónus estritamente religioso. Aludo a uma alteração impensável desde a idade em que nos conhecemos e começamos a soletrar o mundo. O impossível… é conceito a riscar, como se comprova em não poucos actos!

A responsabilidade da Igreja como ponte de reconciliação e de verdade, de promoção integral (e da Liberdade, sua condição primeira), do diálogo respeitador e de produtora da civilização, é apelo a prosseguir um itinerário, sem desfalecimentos.
Destes “saltos” da História são responsáveis numerosos cidadãos do mundo, lutadores a favor da liberdade do pensamento, através do repúdio de totalitarismos de extremos contrários. Entre aqueles alinharam heróicos “cidadãos da paz” (o exemplo tão próximo de João Paulo II é incontroverso!)

E a terapêutica da transformação foi sempre a mesma: “paciência” do conceito, empenhamento realista nas angústias sociais, virtude da paciência, a qual, longe da passividade, é fertilizadora da esperança (há que nos bater por impossíveis, tornando-os possíveis!).

Ao ler a magnífica biografia do Senhor D. António Barroso, da autoria de Amadeu Gomes de Araújo e de Carlos A. Moreira de Azevedo, intitulada “Réu da República – O missionário António Barroso, Bispo do Porto” (Lisboa, Alethia, 2009) ficou-me no palato o bom sabor de uma investigação honestíssima, pela fundamentação nas fontes, releitura interpretativa e conclusões abertas e sem receio. Não é um estudo menor, a provar, antes de mais, que o facto de se apresentar ao público um escrito (ou um artigo) não equivale a descobrir o ouro (quando pode tratar-se de latão…)
A propósito do último capítulo “Testemunhas unânimes da santidade”, da autoria do bispo Carlos Azevedo, evoquei meu querido pai, quando nos contava em família, a chegada do Senhor D. António Barroso a Lisboa, sob prisão, nestes termos:
“E lá, na capital, a canalha esperava-o”.

Muito mais tarde, vim a confirmar a descrição: “Quando D. António Barroso chegou a Lisboa, sob prisão, por ter cumprido e feito cumprir aquilo que fora combinado por todo o Episcopado, encontrou a recebê-lo… a carbonária e a canalha”
E remata o mesmo texto numa pergunta pertinente:
“Pois bem: a canalha, só a canalha a receber o Bispo em testemunho… Mas: onde estava a Igreja de Lisboa?!...” (António Ferreira Gomes, Ser bispo conciliar no exílio (1959-1969), Porto, Fundação Spes, 2007, p. 112)

2. Embora tardia, aqui deixo a minha homenagem fraterna ao Padre António Esteves, não há muito falecido. E uno-me, em comunhão de grande estima, com o Padre José da Silva Lima, a quem formulo votos do mais pronto restabelecimento. Os amigos são nossa família.

Lisboa, 04 de Dezembro de 2009

D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
http://castrense.ecclesia.pt

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