Jornal de Opinião

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12/01/10

Erros grosseiros a propósito da união de pessoas do mesmo sexo

Começamos exactamente pela afirmação de que não se trata de casamento, na verdadeira acepção da palavra. Com a aquisição de muitos séculos de civilização e cultura, não seguimos a precipitação de grupos minoritários que pensam ter descoberto agora a pólvora!
Não duvidando da sua inteligência, manifestam falta de humanidade e liberdade, pelo menos. Casamento autêntico terá que entender-se na compreensão íntegra da sua verdade histórica, ainda que numa grande variedade de expressões. A supressão à partida de algumas características essenciais mina completamente o seu sentido. Não digam que é possível afirmar-se que “dois parafusos casam” um com o outro, ou não será mesmo necessário o parafuso casar com a rosca?! Que se possam unir duas pessoas do mesmo sexo, podem, pois há muitas formas de união, mas não lhe chamem casamento, porque não é a mesma coisa. E com reconhecimento legal, sim, com tantas formas de contrato, mas dentro da incidência do que lhe é específico. Todas as pessoas têm direito à expressão do seu afecto e união sem se imporem a uma sociedade organizada. Para o casamento, homem e mulher completam-se, no que cada um tem de específico, abrem-se e superam-se com algo de novo que se constitui. Tal não é possível quando é um mais do mesmo, fechado, sem horizonte, destinado à morte. Homem e mulher, estruturalmente diferentes e em complementaridade de funções e missão, implicam-se mutuamente para o casamento.
Não nos engana a precipitação com que se quis aprovar tal disparatada união, a que tiveram o atrevimento de chamar casamento. Que falta de bom senso e de respeito! Mesmo legal, tal união não deixa de estar desprovida de fundamentos essenciais, e por isso sem sentido. Diz muito mal dos que a fizeram aprovar , à pressa. Afasta cada vez mais as pessoas dos políticos. Degrada uma instituição que devia enobrecer o País. Não foi devidamente aprofundada e debatida, como aliás afirmam claramente analistas e constitucionalistas. Quando os eleitores votaram num partido, não o fizeram na aceitação explícita de todas as propostas com o mesmo peso, ou com justificação cabal de uma medida particular. É uma vergonha o que acaba de passar-se! Será que mais de noventa mil assinaturas, conseguidas em tão breve espaço de tempo, não mereciam mais respeito? De que tiveram medo? Do debate sério. Do Povo. Este não deu mandato expresso para uma medida particular fracturante, que é retirada dum vasto programa, e agora é imposta num total desprezo pelo país real, de costas voltadas para o povo, sem sentido de Estado e nobreza de sentimentos.
Por favor não venham insistir com alinhamento a outras nações, ditas evoluídas, como expressão de modernidade e defesa das liberdades democráticas, e outras palavras gastas, porque o que se trata é de tacanhez, de falta de abertura de espírito, de mediocridade, e expressão de quem prova não ser capaz de se reger pela sua cabeça, de viver em verdade, na abertura ao outro, de dar as mãos e de construir a vida, com futuro, como pessoas, como nação e como humanidade. Naturalmente que há quem confunda tudo isto com os interesses do seu grupo, com tendência a não sair e morrer no seu casulo, envaidecendo-se com a sensação de estar na moda, mas não passando da limitadíssima experiência de viver medidas a prazo, defendidas por políticos de turno. A seu tempo, estes irão para casa, e as suas propostas vão morrer, porque nada acrescentam à civilização, não modificam a cultura, não ajudam ao bem comum. O progresso da história vai assumir apenas o que contribui para a construção e o bem da pessoa humana, a correcta evolução da sociedade, e a abertura ao bem universal. Pode haver fracassos e retrocessos, como o que agora acontece, mas a humanidade prossegue com a aprendizagem das quedas, rumo aos melhores caminhos de realização e felicidade.
Diz S. Basílio Magno, em celebração conjunta com S. Gregório de Nazianzo a dois de Janeiro, que “a capacidade de ver só se exerce em olhos saudáveis”. Aceitando contudo as limitações da natureza, desejamos também essa visão para a análise que fazemos. É muito interessante o testemunho da amizade e ligação entre ambos, que Liturgia das Horas nos propõe. O “amor da sabedoria” foi o “mais profundo ideal” que partilharam: “éramos um para o outro o mais possível companheiros e amigos, sempre de acordo, aspirando aos mesmos bens e cultivando cada dia mais fervorosa e firmemente o nosso ideal comum... Parecia que tínhamos uma só alma em dois corpos”.
Afinal, é possível a união entre pessoas do mesmo sexo, sem que tal tenha de descambar na estreiteza sexual para justificar aberrante casamento.

P. Armando Duarte

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