Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

04/01/10

Enganei-me! Ou talvez não!...

No decurso da nossa vida, há momentos mais ou menos marcantes, pessoas com maior ou menor significado, acontecimentos de boa ou de má memória, situações com repercussão positiva ou negativa, etc.

Ora, acabado um ano (civil) segue-se outro e na rotatividade das horas e dos meses os itens referidos causam-nos regozijo e – mais vezes do que seria desejável – arrependimento, levando-nos a dizer: ‘enganei-me’!
Sem outro propósito que não seja o de um simples elencar de ‘boas intenções’ para o novo ano – pesem embora a repercussão deste quadro as vivências do passado – ousamos apresentar as seguintes dimensões.

* No contexto social
Nós, portugueses, continuamos a ser um povo triste e mesmo rezingão, capaz de fazer tudo muito melhor do que os outros, mas incapazes de darmos um passo quando temos de ser nós a resolver as questões sobre as quais tão eloquentemente opinámos. De facto, enganei-me, pois pouco melhorou o nosso país por entre e depois de tantas eleições... em 2009.
- Para quando estará a assumpção em sermos um povo que, tendo sol todo o ano, viva alegre com o clima e as condições (mínimas) de paz... exterior?

* No aspecto político
Notou-se, recentemente, que mais do que a resolução dos problemas reais do país – de emprego, de economia e finanças ou de união entre todos sem ligarmos à partidarite – foram introduzidos temas de apêndice, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, distraindo-nos com outras lutas sem nexo ou razão (clara) de ser. De facto, enganei-me, pois fomos gastando tempo e energias com aspectos que poderiam ser resolvidos sem tanto alarido e razoável confusão.
- Para quando teremos actores políticos que se rejam mais pelo bem comum e menos pelos seus interesses ou em favor dos lóbis que representam... mesmo no Parlamento?

* Na área da justiça
Quando se esperava que o terceiro poder fosse regenerado pela sua qualidade e creditação – social, equitativa e moral – fomos vendo arrastar processos pelos tribunais, por entre fugas de informação e magistrados em conflito mais ou menos latente. De facto, enganei-me, pois fomos criando algumas expectativas, que foram defraudadas pelos executores – a montante e a jusante – da barra de julgamento.
- Para quando teremos uma justiça rápida e credível, sem quaisquer interferências de outros poderes... alguns dos quais sub-reptícios e encriptados... dentro e fora dos círculos de juízo?

* Na dimensão da família
Por entre tantos e tão dispares ataques ao núcleo da sociedade – fundado no compromisso estável entre um homem e uma mulher – que é, indiscutivelmente, a família – muito para além das pretensões do Estado – tem vindo a ser posto em causa por tendências poderosas para que tenha o mesmo valor aquele vínculo de família com o de A com A ou B com B... isto é, do mesmo sexo... só diversificando no género. De facto, enganei-me, pois percebi que há forças que não olham a meios para atropelarem os fins... nem que sejam os mais abjectos segundo a natureza das pessoas humanas... normais.
- Para quando estará uma moral/ética que não olhe aos raciocínios em razão das consequências, mas faça-o em determinação das causas, tanto da felicidade (pessoal) como da complementaridade (de sexos e não só de géneros)... agora e para o futuro?

* Por ocasião do ano sacerdotal
Foi-me assaz difícil de gerir (humana e espiritualmente) a morte de dois padres – com idades diferentes, em dioceses muito afastadas e em circunstâncias quase antagónicas – no decorrer dos quatro últimos meses: um só foi encontrado três dias depois de morto, outro foi assistido, cuidadosamente, até exalar o último suspiro; um era um intelectual de rasgos impressionantes, o outro sem grande alarido soube converter-se ao Concílio Vaticano II; um destoava pela verborreia e saber, o outro cativava pela simplicidade e cordialidade... De facto, não sei se me terei (totalmente) enganado na leitura – feita neste ano sacerdotal, que ainda vai decorrer até meados de Junho – ao ter-me angustiado sobre a forma como os padres são, hoje, vistos, acolhidos e acompanhados: somos, de verdade, pessoas sós – muito para além de celibatários, por vocação, temos de interiorizar que somos, por ministério, homens quase solitários por missão – e muitas vezes mal acompanhados – quase sem família de sangue, por opção, somos votados à apatia, por imposição, de tantos a quem nos damos... sem pouco (ou nada) receber em troca.
- Para quando estaremos – sobretudo, quem já se confrontou (pela idade ou por circunstâncias espirituais) com esta vivência, bem como os responsáveis eclesiásticos – na disposição de reflectir sobre perspectivas de solução... onde se criem hipóteses com mão humana e não só estruturas frias (embora talvez confortáveis) sem alma?

Outros aspectos poderíamos abordar, como a saúde, o desporto, as artes, etc. Será que me enganei em ter escolhido estes que tentei tocar?

A. Sílvio Couto


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