Jornal de Opinião

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27/05/11

Programa político de um cidadão cristão, responsável e livre

Não é um programa partidário, nem vai a votos. Qualquer que seja o resultado dos que vão às urnas, este será sempre um programa permanente, válido e imperioso. É o programa dos que não se resignam a ficar calados e instalados, que sentem o dever de intervir com liberdade, sem medo e não olhar a proveitos pessoais. Pontos do programa para uma sociedade livre e aberta ao bem de todos. Não são aqueles a que os partidos costumam dar maior atenção, mesmo que digam o contrário. Aí vão:


1. Respeitar e defender a pessoa humana, homem ou mulher, ou seja, cada cidadão, com a sua dignidade, direitos e deveres, capacidades e fragilidades, liberdade e alienações. Sempre em ordem à sua defesa, respeito e promoção. As pessoas são o verdadeiro património da nação. Esta empobrece sempre que se matam os nascituros. Não há cidadãos de primeira e de segunda. Não pode haver pessoas a quem tudo sobra e pessoas a quem tudo falta, gente reverenciada e gente desprezada. Toca a todos, qualquer que tenha sido o seu berço, uma igual dignidade e condição. As pessoas são mais importantes que os partidos políticos. Tudo existe em função delas.

2. Defender e promover a família. A família é fundamental para cada pessoa e para a sociedade. Ela não pode sair do horizonte atento do nosso observatório social. Chega de projectos e leis de destruição e de minimização da família, com base em ideologias estranhas e maiorias parlamentares. Quem não ama, não sabe o que é o amor e a família normal é o espaço normal do amor. As mudanças sociais e culturais obrigam à reflexão para defender valores e instituições naturais e universais, não para os aniquilar ou relativizar. A família tem vindo a ser maltratada pelo poder público e pela comunicação social. Tem sido desprotegida e minimizada em aspectos essenciais da sua vida e missão. Apoiar e defender a família é garantir o futuro do país e das pessoas e o seu necessário equilíbrio afectivo. É urgente lutar por políticas familiares sérias. Já se fez de mais em contrário, por antipolítica que não respeitou a família.

3. Dar sentido, humano e social, à actividade económica. A economia não é um fim em si mesma, nem uma actividade para beneficiar apenas alguns. Porque necessária, não deve faltar aos seus gestores, políticos ou empresariais, competência, sentido de justiça, discernimento do essencial, sentido social. Numa economia de bem comum não há lugar para luxos e supérfluos, nem para proteccionismos injustos. Sempre assim, e mais ainda em tempos de uma crise grave, injusta e penosa.

4. Dizer, sem medo, que o Governo não é o Estado. O poder de quem governa só se pode entender como serviço responsável à comunidade. Não é uma providência sem limites, que promete o que não tem e não o pode dar. Não é o dono das pessoas para as manipular e delas se servir, a seu jeito e interesse. O horizonte permanente de quem governa é o bem comum, o bem de todos, sem excepção, não de grupos ou claques partidárias. O bem de todos, segundo as possibilidades nacionais, proporciona a todos os cidadãos, mesmo aos que não o querem aproveitar, aquilo a que têm direito para viver com dignidade. E, também, de modo a que possam colaborar, à sua medida, para que todos beneficiem do mesmo, de igual modo. Aos governantes não se dispensa a lucidez sobre os objectivos para bem da comunidade, o administrar com honestidade o erário público, o acolher e fomentar a participação regulamentada da iniciativa privada, o vencer a tentação de totalitarismos e demagogias, o defender e dar exemplo claro de compromisso democrático. Respeitando e apoiando o princípio da subsidiariedade, fundamental numa sociedade realista, se valoriza a sociedade civil e se põe travão a monopólios do Estado e de outros.
5. Lutar por uma educação em que o educando é a prioridade. Educação que olha a pessoa na sua integridade, aberta aos valores morais, éticos e transcendentes, baseada em projectos educativos sérios, ministrada por educadores preparados e honestos, integradora da família, com liberdade para que esta possa intervir e optar por projectos educativos concretos. Educação que responsabilize as comunidades locais pela promoção de um ambiente propício e as autarquias pela defesa de meios adequados. Educação que seja uma preocupação permanente de quem governa. Na educação escolar, propicie-se a abertura ao mundo da cultura, da arte, do património local, das tradições sãs, do respeito, ainda que crítico, do passado, dos sentimentos e dos afectos que equilibram e enobrecem. Educar é capacitar para a valorização pessoal, convivência sadia e participação social. Educar para a necessidade de aprender até morrer, propiciando meios para que assim aconteça.

6. Defender os mais frágeis da sociedade. Há que ter sempre presente os mais pobres, as pessoas com deficiências graves, aqueles a que faltaram oportunidades para ir mais além, os imigrantes injustiçados, os sem trabalho e sem abrigo, os com menor acesso à saúde e seus cuidados, as famílias desestruturadas, vítimas desprevenidas das miragens da irresponsabilidade social e política. Neste sentido, há que promover a justiça social, fomentar o voluntariado, estimular a solidariedade e a partilha fraterna.

7. Denunciar, por todos os meios, a corrupção, os abusos do poder, os favores partidários, a promoção dos incompetentes, a sabujice dos inúteis, as arbitrariedades e o “vale tudo”, mesmo a mentira, para conseguir objectivos sonhados, mas imerecidos.

8. Fazer com que a gente de boa vontade, da Igreja e da sociedade civil, lute por um Portugal de rosto lavado, consciente da sua história, dos seus valores, da sua cultura, das suas tradições sãs, das suas responsabilidades, um país sem complexos de mais ou de menos, igual a si mesmo, com a sua originalidade e capacidades, mas, também, consciente dos seus defeitos, erros e limites.

9. Acreditar, como cristão, no valor determinante da fé comprometida, alimentada nas raízes evangélicas. Por um esforço comum, ela pode ajudar a libertar da corrupção, da mentira e da violência, uma sociedade que se deixou alienar pelo poder partidário e pela publicidade sem regras. Procurar, por coerência e convicção, que as intervenções públicas, individuais e comunitárias, respeitem e promovam a dimensão espiritual e cristã da vida, a fraternidade sincera, o primado de Deus nas consciências e no agir pessoal e social. Uma alternativa original onde cabem aqui todos os projectos sociais necessários.

10. Dirão muitos que tudo isto é utópico. É sempre esta a opinião de quem não se quer comprometer e acaba por ser vítima das suas omissões, arrastando outros consigo. A utopia é sempre caminho e inspiração para novos horizontes de vida e novos caminhos de acção. Nada mais utópico que o Evangelho de Cristo. A ele, porém, vão beber, desde há dois mil anos, todos os projectos políticos e sociais que querem servir as pessoas, ter uma vida com sentido e resistir ao tempo. A falta de utopia sadia e de alimento do poder em fontes sãs não é acaso a razão das crises sociais e morais que agora nos preocupam e atormentam? O meu programa é este e ser-lhe-ei fiel.

António Marcelino

1 Comentários:

Às 27 de maio de 2011 às 21:17 , Blogger António da Cunha Duarte Justo disse...

Se os cristãos distribuídos pelos diferentes partidos tivessem esta mensagem presente teríamos nação!

 

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