Jornal de Opinião

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03/11/09

Responsabilidades do Exército de Portugal

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 30 de Outubro de 2009

Leitura semanal dos problemas do Mundo e da Igreja

Nas margens do caminho, os pobres e os aflitos aí estão: no Afeganistão; em qualquer esquina, diante de um assalto; à porta de um lugar de emprego, sem trabalho e sem vontade dos responsáveis o conseguirem; numa escola, onde os mais pequenos são violentados; numa família, onde um ou mais de um dos membros, é barbarizado; numa rua de Timor-Leste ou na rua de cada um de nós… Os pobres e os aflitos clamam como no Evangelho: “Jesus, Filho de David, tem piedade de nós”.
E os inquietos, os coerentes, quem mostra engenho e vontade de transformar o mundo, todo e qualquer responsável pelo poder, só podem ter uma resposta: “Que quereis que eu faça”?
Solicitações e angústias destas bateram e batem à porta do Exército Português, que, neste seu dia, teve o bom gosto de vir a Braga.
Diante de crentes, descrentes ou indiferentes, evocamos todos os militares mortos e vivos; suas famílias, suas alegrias e desgostos; também a sua mentalidade e cultura, a coragem de defender e mudar Portugal, o serviço à fraternidade e à promoção das gentes, a lucidez, a coragem, a perseverança, a paciência em esperar.
Em sondagem dos últimos dias – confirmando a opinião pública – a imagem das Forças Armadas goza da maior saúde pela cooperação junto das populações, pela eficácia e afirmação comprovada do ponto de vista institucional em missões a favor da civilização, pela defesa dos direitos humanos, pela lucidez da informação e da segurança.
A condição militar nunca fomentou nem foi berço de privilegiados, sendo seu travejamento mestre cumprir os objectivos que o poder fixa e solicita. Esta uma razão primeira no desempenho de uma vocação profissional: quando muito se respeita e muito se pede e melhor se cumpre, as dissonâncias serão sempre solucionadas como o emblema maior de gente de bem.
Defender pessoas, salvaguardar o ambiente, promover o saber, exigir o rigor de procedimentos éticos em ordem ao bem comum, apoiar quem serviu como antigo combatente, desenvolver dinamismos de autêntica acção social, dar ânimo a famílias, garantir um futuro a jovens, sobretudo, conferir saúde a doentes, fundamentar a estabilidade e a confiança, não permitir dúvidas quanto à intransigência na defesa dos direitos humanos, nunca permitindo subversões da dignidade dos mais frágeis, dispensar a inutilidade, valorizar a competência, acudir a quem é violentado do ponto de vista individual, nacional e internacional… estes, e tantos outros, são encargos assumidos, sem vergonha, pelo Exército de Portugal. São valores de moralidade pública; são razões comuns da cidadania.
Tem sido assim entre nós, como em Timor-Leste, no Kosovo, no Congo, na Guiné e em demais nações, nas conversações de paz e na cooperação com países de expressão portuguesa, na formação das Academias, Escola práticas e demais instâncias de maturação da personalidade e das missões de bem servir, na terraplanagem de um terreno, na construção de uma ponte, na camaradagem e na fraternidade pela segurança e defesa nacional…
Julgue-se pelos actos. Não se avalie por preconceitos, pela ignorância ou pelo deixar correr. Ninguém pode ficar postado à beira de qualquer caminho sem uma resposta para a fome, sem uma honra para os seus sonhos, sem uma justiça para os direitos, sem um sentido para a existência. As Pátrias salvam-se, se os pobres forem a preocupação primeira. Este é o seu grito: “Tende piedade de nós!” “Sede solidários connosco”. Esta é a função e a responsabilidade das Mulheres e dos Homens do Exército Português!

Lisboa, 30 de Outubro de 2009

Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança

http://castrense.ecclesia.pt


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