Jornal de Opinião

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21/03/12

Timor: algo vai avançando…devagar

Em 4 anos algo mudou em Timor. É certo em que 15 dias não dá para observar tudo, mas como foram percorridos os mesmos caminhos e mais outros tantos novos sempre foi possível fazer algumas observações objetivas. Menos cenas de destruição, não se observam já campos de deslocados, mais casas de alvenaria feitas ou em construção em Dili, e menos noutras cidades. Há mais barcos na baía.

Em Hera uma grande central eléctrica construída por empresa chinesa, já a funciona; pelos cerca de 800kms de estradas e caminhos percorridos observa-se a instalação de linhas novas de alta, média e baixa tensão; melhoram as ligações telefónicas; encontram-se agora aqui e além escavadoras, pás mecânicas, camiões pesados para transporte de terras a abrir novos caminhos ou a remover terras de barreiras caídas.
Há restauração, limpeza e pintura de edifícios: a Catedral, a escadaria de Cristo-Rei, a Igreja de Motael… e Igrejas novas como a de S. Sebastião de Bidau, Becóra…
É mais fácil comunicar em português com mais gente, como aconteceu ao autor, apesar de muitas deficiências no ensino por falta de professores fluentes em lusofonia e por falta de livros em português. Em Dili as modestas livrarias visitadas não os têm.
Impressiona também ver por todo o Timor grupos de crianças com uniformes a percorrer impensáveis distâncias para chegarem a escolas agrupadas mas longe das suas casas. Muitas delas não levam mais que um pequeno caderno para escrever. A escola já será para todas as crianças? Possivelmente não.

Há também situações e deficiências semelhantes às de quatro anos antes. As péssimas condições das estradas e caminhos, por onde circulam as “angunas” mais ou menos abertas ou com toldo com passageiros em cacho humano, os autocarros e muitos outros transportes como jipes de caixa aberta, camiões com gente, motocicletas com duas e três pessoas… Todos vão fazendo piruetas para fugir de um buraco ou lodaçal para se meter noutro e fazer 80kms em 5 horas! Continuam as dificuldades de acesso à internet fora de Dili, a intermitência de água e luz, são frequentes; a falta de pontes em ribeiras de algumas estradas de longo curso obrigam a desistir ou a maiores distâncias.

Continuam os “biscatos” de sobrevivência de recolha e venda de molhos de lenha à beira da estrada, de montículos de pedra, de areia nas ribeiras, de cachos de bananas e bancadas de venda direta de produtos de cultivo próprio a preços tão baixos que chocam o europeu. Em zonas à beira mar e à beira do lagoa Ira Lalaro o recurso à pesca artesanal permite levar peixe para casa ou vendê-lo pelos caminhos adjacentes em enfiadas de dúzias penduradas no pau à frente e atrás.

Quase um folclore cultural são as cenas de manadas de búfalos a “lavrar” os terrenos inundados para a plantação de arroz, andando de cá para lá ao toque da vara do pastor. Pelos caminhos e ruas de cidades continuam à solta os cães, galinhas, porcos, cabras que se atravessam continuamente à frente dos carros; e mais para as encostas por toda a parte pastam búfalos e cavalos de raça timorense. As pessoas percorrem como se fosse uma distração longas distâncias de três e mais horas para irem vender ou comprar algum artigo aos mercados, muitas vezes o “vinho” ou aguardente artezanal. Os sukos ou aldeias com frequência tem apenas um quiosque onde vendem utilidades, quase sempre de fabrico chinês ou indonésio. Um bicho ameaça Timor: a corrupção de que se fala bastante.

Timor, Fevereiro 2012
Aires Gameiro






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