Compasso do Tempo de 08 de Julho de 2011
Voltamos ao essencial. E a viagem de regresso tem como apeadeiro a imposição de austeridades aos cidadãos, as quais deveriam ser explicadas (na ocasião) e, daqui a algum tempo, avaliadas (lá para Outubro, diz-se). Entretanto, o desassossego financeiro internacional ainda não fez pausa.
O retorno ao mais importante é praticar o que, há uma semana, ouvi nesta “nova” Assembleia da República: alguém verbalizou a expressão “doutrina social da Igreja” e uma outra exclamou: “Ninguém ficará para trás”, com um comentário: é necessária “a opção preferencial (conceito tantas vezes repetido pelo beato João Paulo II, com menos agrado de alguns baptizados) pelos mais vulneráveis”…
A comunicação social nada reteve deste propósito. E, numa semana em que foi ordenado em Fátima o novo bispo de Coimbra, o semanário “Sol” elogiava um bispo português que permanecia igual ao que era anos atrás ao serviço da diocese de que era e é prestigiado filho. Mas, ao mesmo tempo, as indumentárias e os títulos dos sucessores dos Apóstolos eram passados a pente fino em reparos bem construtivos. As poeiras levam tempo a repousar.
Era uma senhora a pronunciar-se, com a intuição de que só o feminino é capaz. Não discriminava ninguém. Era, apenas, o espanto pelo que devia ser alterado, na sua opinião, e não era.
A este propósito, e a respeito de demais figurinos, chegam-me outros comentários sobre capas e ornamentos, vestidos longos e balões de encher, regalando-se até algumas instituições em enviarem aos futuros candidatos, o desenho e as medidas da vestimenta a envergar. Trata-se (e sublinho-o) de irmandades laicais, que, dada a inexistência de outros trabalhos e serviços, se votam ao desfile do efémero e da mediocridade. Só falta publicitarem o alfaiate e a senhora costureira de alta roda. Às vezes pergunto-me por que é que Nosso Senhor só visitou, uma vez, os Vendilhões do Templo. Acrescento que, felizmente, se trata de casos pouco habituais. Mas o preocupante é a tentação de modos e a abertura de um ciclo… E, no silêncio e intimismo de liturgias, desenham-se aquelas nobres intenções, a que se não põe cobro, porque se julga uma honra dar abrigo a uma feira de mitos e de salões.
São sinais de imperalismos, que, perdido o século, se recolhem ao “convento”.
E, neste mesmo campo de ambiguidades (e, em época de abate de “gorduras” estatais e da obrigatória morigeração de gostos e costumes), dou-me a pensar em revivalismos organizados, quase à compita entre si, como desforra dos que optaram por materiais pobres, pela simplicidade de viver, pelo despojamento sem votos, quase acoimando a defesa dos valores evangélicos como se tratasse também de tendências da época…
A afirmação: “Ninguém ficará para trás” fez-me recordar o dito de um militar: “Ninguém ficará caído no campo de batalha. Nem que venha às nossas costas”.
Num tempo de tradicionalismos e heráldicas (não me refiro ao que é ciência e investigação) e de miséria e decadência económica e moral, é muito sério afiançar-se de que não haverá filhos pródigos, tombados.
Venham daí os salvadores e os ombros largos. Às costas destes, retomarão seus lugares e sonhos. Foi o que ouvi!
MDN – Capelania Mor, 08 de Julho de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
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