Ao Compasso do Tempo - Crónica de 06 de Novembro de 2009
Leitura semanal dos problemas do Mundo e da Igreja
Alguns sectores do mundo de hoje e a Acção Católica de sempre
Donde viemos e para onde vamos! Confio que prossigamos corajosos e sem constrangimento no sector do mundo hospitalar, militar e prisional. Têm sido estes mundos, franjas e margens de acção, conforme tenho assinalado. O único em que havia padres jovens era o militar, porque o Estado mandava, e não consta que, no decurso dos anos da democracia, tenha havido atitudes realistas em ordem a enviar, por critérios pastorais, padres relativamente jovens e bem preparados, para o mundo prisional e hospitalar. Houve excepções, e aqui as destaco. Não estou a fazer reparos negativistas. O que sempre desejei é que fossemos locomotivas e não carruagens.
Do ponto de vista da Conferência Episcopal Portuguesa, foi produzido um pequeno documento onde se chamou a atenção para este facto, no seguinte sentido: o contributo das dioceses para as funções pastorais a nível nacional (Director do Secretariados Geral da Conferência Episcopal ou Directores dos demais Secretários das Comissões) deveria estabelecer consensos, critérios de escolha, generosidade comum com o fito de serem apontados nomes concretos e “credíveis” para responsabilidades missionárias de tal monta.
Num momento, em que instâncias tão sensíveis, pelos quais a Igreja em Portugal tanto se empenhou em ordem a uma presença de serviço, de respeito pela liberdade religiosa e de apoio aos mais sofredores (como são todos os que vivem em hospitais e prisões), sem esquecer a máxima cooperação referente às Forças Armadas e de Segurança, seria, mais do que nunca aconselhável – com o máximo respeito e justiça para quem votou a sua vida sacerdotal a tais “climas” e em obediência (pois este assunto das “franjas” convida a um exercício pastoral complexo), que análise igual tivesse lugar para, em lugar da “reverência”, imperasse a competência.
Em 7 e 8 de Novembro, no Porto, comemoram-se 75 anos da Acção Católica em Portugal. Não se trata de homenagens mas de acção de graças. O exemplo original de milhares de mulheres e homens, imersos no mundo, e tantas vezes em tensão (felizmente) com os bispos da altura. Por causa de problemas da justiça, da liberdade, do à vontade evangélico, dos valores (por quem tanta gente hoje clama) da liberdade de imprensa, de associação, de voz pública, ao lado do sonho de uma democracia em Portugal político e de “comunhão” na Igreja hierárquica (tão anterior ao Concílio Vaticano II) são uma convocatória a todos os baptizados, nestes dias que fluem.
Nunca faltaram assistentes de Acção Católica noutros tempos! Nunca estiveram arredios leigos e leigas em outras eras, contemplando os problemas históricos, dos quais, muito tradicionalmente, o Concílio falou como “sinais dos tempos”. Mas quem trabalhou e serviu na Acção Católica conheceu a cartilha e, sem tradutores, articulou a linguagem do mundo nas suas diversas geografias.
Não valeria a pena prolongar (não as saudades da história) mas o modo de olhar “o Tempo e o Modo”? Não seria altura de, prosseguindo o futuro, estudarmos “o testamento” de um período único da Igreja Católica em Portugal, e em tempos de ditadura?!
E por que não ter saudades do que valeu a pena, de tal forma que não lhe sucederam generosos discípulos, tal a exigência da “linguística” do mundo, tal a aspereza dos combates pelo Evangelho!
Já repararam que, à excepção dos poucos Movimentos ainda vigentes da Acção Católica, e de um ou outro sucedâneo do mesmo espírito, a última encíclica social de Bento XVI, “Caridade na Verdade”, passou, sem deixar rastos, em Portugal Católico? Porquê?
Nota – Quanto à carta publicada em 4 de Novembro, a propósito da homilia no “Dia do Exército”, pede-me a justiça que chame a atenção para o facto de ter falado explicitamente nos antigos combatentes! Assiste-me de tal forma essa responsabilidade que, há um ano, presidi à Celebração, no momento da chegada dos restos mortais de militares nossos, vindos da Guiné. O mesmo terá lugar, no próximo dia 14, junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar, em Lisboa. Lá estarei.
Lisboa, 06 de Novembro de 2009
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
http://castrense.ecclesia.pt
1 Comentários:
D Januário Torgal,
Cheguei aqui mais ou menos por acaso e li a notícia sobre o 75º aniversário da A.C.
Pertenci à primeira Junta Central presidida por Sidónio Paes e ele enviou-me, antes de morrer, um longo texto ainda inacabado (por rever) e que nunca foi publicado a não ser parcialmente, sobre a A.C. em Portugal.
Utilizei-o como fonte para um capítulo de um livro que publiquei em 2007 (Entre as brumas da memória) e, mais tarde, pus online o documento. Se lhe interessar, está aqui, dividido em quatro partes:
http://entreostextosdamemoria.blogspot.com/2007/08/x.html
http://entreostextosdamemoria.blogspot.com/2007/10/aco-catlica-em-portugal-2.html
http://entreostextosdamemoria.blogspot.com/2007/11/aco-catlica-em-portugal-3.html
http://entreostextosdamemoria.blogspot.com/2007/11/aco-catlica-em-portugal-4.html
Cumprimentos
Joana Lopes
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